A solidão sempre foi algo que me atravessou. Mesmo quase sempre cercada de primos e amigos, ser filha única me proporcionou a experiência de ter muitos momentos de introspecção em que me vi única perdida no espaço e no tempo. A imaginação, assim, sempre foi aflorada. Minha habilidade de criar histórias e roteiros na própria cabeça fazia com que minhas brincadeiras de boneca fossem dignas de uma tela de cinema. Nunca tive amigos imaginários, mas imaginava situações com as pessoas que conhecia que preenchiam os momentos de solitude.
Não consigo entender como deve ser crescer em um ambiente em que há uma companhia constante. Meus pais, ainda que muito presentes, nunca deixaram de viver sua própria vida. Passei a adolescência acreditando que não podia depender de nenhuma pessoa, que era eu por eu mesma e que no fim sempre estaria sozinha.
Quando me mudei de estado e passei a morar sem ninguém em um lugar que conhecia pouca gente era como se essa crença tivesse criado raízes na realidade. Mesmo tendo facilidade pra fazer amigos e conhecer gente nova, a solidão era algo que me cercava. Grande parte causada por mim, que sustentando o que criei na minha cabeça, não me deixava aproximar demais de ninguém.
Muitas barreiras foram quebradas. Conheci gente que se forçou pra fazer parte da minha vida e virou rotina estar cercada de pessoas que amo. Me reaproximei de pessoas que já amava e aprendi a compartilhar uma parte de mim também.
Lendo o livro da Rosa Montero, “o perigo de estar lúcida”, me deparei com a seguinte passagem:
Estar louco é, sobretudo, estar só. Mas falo de uma solidão descomunal, de algo que não se parece em nada com o que entendemos quando dizemos a palavra solidão. Ainda não foram inventadas as letras capazes de conter e descrever uma solidão assim. Tente imaginá-la: já falei que a realidade passa para o outro lado de um túnel, que é o mesmo que dizer que você se afasta da realidade e perde todo contato com ela.
No final de 2021 tive um episódio psicótico. Era como as minhas brincadeiras de criança, mas todas elas pareciam reais. Eu entendo a solidão que é não conseguir estar no mesmo plano de realidade que as outras pessoas. O que me trouxe de volta (além dos antipsicóticos e da terapia), foram as conexões com as pessoas que eu tenho na minha vida. Ver amigos antigos, falar sobre coisas amenas, sentir o carinho das pessoas, coisas que me lembravam de como era viver a vida de verdade. Eu sou grata demais a todos que estiveram comigo.
Minha amiga Luiza publicou um texto esses dias com a seguinte frase: “eu me viro sozinha, mas é tão bom saber que não preciso”. Eu amo poder viver a minha vida sabendo que tenho gente com quem posso estar.
Ano que vem vou passar por mais uma mudança de estado, pra morar sem ninguém mais uma vez. Nenhuma sessão de terapia até agora que meu psi me perguntou “do que você tem medo?” eu não respondi “de ficar sozinha”. Ainda que eu abrace a solitude e a preencha de inúmeras maneiras possíveis, não quero nunca voltar a crer no que pensei por tanto tempo. É bom saber que consigo me virar, mas é melhor ainda saber que tenho gente pra se virar comigo.
ai, amiga, lindo demais.
acho que a confiança sobre a nossa própria suficiência vem justamente da relação com o outro.. obrigada por ser uma das minhas referências em amor e companheirismo.
te amo te amo te amo <3 mesmo longe fisicamente, sempre estaremos juntas